Cidades russas entram em pânico com aproximação do suposto "fim do mundo"
Cidades russas entram em pânico com aproximação do suposto "fim do mundo"
ELLEN BARRY
DO "NEW YORK TIMES"
MOSCOU - É oficial: o ministro responsável pelas situações de emergência da Rússia diz ter acesso a "métodos para monitorar o que está acontecendo no planeta Terra" e que pode assegurar que o mundo não irá acabar em 21 de dezembro de 2012. Segundo o calendário maia, essa é a data em que um ciclo de 5.125 anos, conhecido como a Contagem Longa, supostamente chegará ao fim.
Afirmações semelhantes têm sido feitas pelo médico que chefia a saúde pública da Rússia, uma alta autoridade da Igreja Ortodoxa Russa, pelos legisladores da Duma e por um ex-DJ da Sibéria que recentemente se destacou no programa de televisão "Batalha de Médiuns". Outra autoridade propôs a abertura de processos contra russos que espalharem o boato.
A Rússia não é o único país que enfrenta o pânico causado pelo suposto fim do mundo. Na França, as autoridades pretendem vetar o acesso à montanha Bugarach, no sul, para evitar uma multidão de visitantes que acredita que esse lugar é sagrado e protegerá uns poucos escolhidos contra o fim do mundo.
O patriarca da Igreja Ortodoxa da Ucrânia recentemente emitiu um comunicado assegurando aos fiéis que "o Dia do Juízo Final certamente virá", mas será causado pelo declínio moral da humanidade, não pelo "chamado alinhamento de planetas ou o fim do calendário maia".
Por sua vez, o Estado de Yucatán, no México, que tem uma grande população maia, encara com leveza o boato sobre o fim do mundo. O governo planeja um festival maia em 21 de dezembro e, para mostrar que tudo continuará bem após essa data, uma nova edição do festival está programada para 2013.
Os russos se deixam levar muito pelas emoções, conforme testemunhou o reverendo Tikhon Irshenko durante sua visita à Colônia Penal n° 10 na aldeia de Gornoye. Os guardas disseram que a profecia maia aumentou muito a ansiedade geral e que alguns presos fugiram da colônia "devido a seus pensamentos perturbadores".
Ainda mais comuns na Rússia são relatos sobre compras movidas pelo pânico. Em Ulan-Ude, capital da região de Buriátia, cidadãos estão fazendo estoques de alimentos e velas para sobreviver em um período sem luz, seguindo instruções de um monge tibetano chamado Oráculo de Shambhala, que foi descrito em alguns noticiários da televisão russa. Houve um relato semelhante em um jornal local da cidade industrial de Omutninsk, a cerca de 1.100 quilômetros a leste de Moscou.
Viktoria Ushakova, a editora-chefe do jornal, disse que publicou o artigo como mero entretenimento na seção "Relax", publicada na última página. Isso causou pânico durante uma semana, o qual se espalhou pelas aldeias no entorno.
"Não devemos falar sem parar sobre o fim do mundo, e eu digo isso como médico", disse Leonid Ogul, membro do comitê de Meio Ambiente do Parlamento. "Algumas pessoas têm ataques cardíacos e outras partem para ações negativas."
Maria Eismont, colunista do jornal "Vedomosti", argumentou que a guinada recente do governo para o conservadorismo religioso arcaico abriu o caminho para as ideias apocalípticas. Ela observou que, no julgamento por blasfêmia contra a banda punk Pussy Riot, no verão passado, as jovens da banda foram condenadas com base, entre outros aspectos, em pareceres de clérigos ortodoxos dos séculos 4° e 7°.
"É injusto considerar Omutninsk um local marcado pelo misticismo florescente", escreveu. "Se cossacos em trajes operísticos marcham no centro de Moscou e a Duma está cogitando seriamente impor punições pela violação dos sentimentos dos crentes, então por que as pessoas não deveriam comprar fósforos por temer labaredas cósmicas?"
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